Diretor da FenaPrF discute cortes de orçamento na Polícia Rodoviária Federal
De acordo com Fábio Jardim, cortes provocaram cancelamento de diversas operações da PrF nas estradas brasileiras
Com a obsessão do atual governo por controlar as contas públicas, alguns dos mais importantes braços do Estado tem sofrido com cortes bruscos de orçamento. Dentre os prejudicados por essas medidas está a Polícia Rodoviária Federal que teve seu orçamento cortado quase pela metade ao final do primeiro semestre de 2017.
Como consequência desse cenário, a PRF teve de diminuir o contingente de fiscalização em algumas regiões do país. Em Porto Alegre, capital do Rio Grande do Sul - por exemplo, a edução de viaturas na estrada já foi de 80%, enquanto em Estados como Amapá e Pará os policiais do órgão se limitam a fazer a fiscalização nos postos fixos, em razão de economia de combustível.
Para entender um pouco mais sobre essa situação danosa não apenas para os servidores da Polícia Rodoviária Federal do Brasil, senão também para a segurança das estradas locais, conversamos com o diretor de comunicação da FenaPrF - Fábio Henrique Silva Jardim.
Confira abaixo a entrevista abaixo:
Redação: Como está sendo administrado no momento o orçamento da Polícia Rodoviária?
Fábio Jardim: O orçamento, que era previsto em 420 milhões para o ano de 2017, foi cortado para apenas 230 milhões, e como já foram gastos valores próximos de 200 milhões o Diretor Geral enviou documento com diretrizes para economizar em todas as áreas da PRF, visando conseguir finalizar o ano dentro no novo valor permitido. Dentre as diretrizes estão o cancelamento de todas operações aéreas de salvamento e policiamento com os helicópteros, cancelamento das rondas das viaturas, sendo que estas devem rodar somente para atender a ocorrências, redução no quadros de terceirizados e horários de funcionamento nas unidades administrativas, dentre outras.
Redação: Hoje os quadros da Polícia Rodoviária do Brasil atendem plenamente as necessidades da sociedade?
Fábio Jardim: Existem 13.098 cargos aprovados por lei para a PRF, porém temos apenas cerca de 10.000 policiais na ativa, estando os 3.000 cargos vagos, para serem preenchidos com a realização de concursos públicos. Esses efetivo de 10.000 policiais é similar ao que tínhamos há mais de 10 anos atrás, e a frota veicular aumenta quase 10% a cada ano. Mesmo com o preenchimento de todas as 13.098 vagas previstas em lei, o quadro ainda seria insuficiente para fazer frente à necessidade de patrulhamento dos mais de 76 mil quilômetros da malha viária federal e às atribuições que vêm sendo adquiridas pelo departamento.
Redação: Como você enxerga a relação entre orçamento público e a chamada crise de segurança pública?
Fábio Jardim: Nós do sistema sindical entendemos que o governo anda na contramão das necessidades da população, não dando as devidas prioridades às áreas mais sensíveis da atualizadade. Áreas como a PRF e a PF não poderiam ter orçamentos reduzidos, considerando a crise na segurança pública. Isso abre espaço para o aumento da criminalidade e para a sensação de impunidade, e a sociedade é quem paga essa conta mal administrada.
Redação: Vivemos tempos em que a mistura dos interesses público e privado é muito comum, isso de alguma maneira impacta a profissionalização da polícia rodoviária ou essa característica da força tem se mantido intacta?
Fábio Jardim: A PRF não sofre muitas interferências externas e possui poucos cargos políticos que não fazem parte da carreira de policial rodoviário federal, por isso acredito que ainda não esteja sofrendo algum tipo de desmantelamento. Somos o único cargo de carreira única entre as polícias do Brasil, um modelo de funcionamento de referência pela maior eficiência que as carreiras bi-partidas, e isso também contribui para minimizar a existência de influências externas, cargos comissionados e interferências de interesses privados sofridos por outras carreiras.